28 janeiro, 2009

Rasguei-me ao meio

Naquele tempo eu sentia-me sufocado... as tuas surpresas... os teus telefonemas... a tua presença constante... os nossos sorrisos... os nossos suspiros... os nossos olhares cúmplices...

Não resisti... conseguiste-me fazer esquecer de tudo... como me tornei frágil... perdemo-nos um com o outro... tantas portas... tantos caminhos... tantas estradas... tantas janelas... e não conseguimos encontrar uma saída!!!

A nossa amizade hoje angustia-me.
Fugi do teu olhar, antes que me afogasse.

Fui então acusado de cobardia, e nunca fui compreendido.
Fui acusado de não ter lutado... e tu... será que tu não deverias ter lutado também?
Fui acusado de não ter esperança, e nisso talvez tenham razão, porque apaguei todas as luzes logo após te ter negado a possibilidade de entrada na minha vida.

Os meus pés decidiram parar antes que me perdesse de vez.
Desde esse dia tentei arranjar novos sonhos... compartilhar novos planos...
Saí pela porta dos fundos quando não havia ninguém a olhar.
Vagueei falsamente distraído, à procura de ouvir os sons do silêncio e nada mais.

Apaguei os teus sorrisos da minha memória.
Rasguei-me ao meio e deitei metade fora.

03 janeiro, 2009

Cíume

A dada altura todos os meios são válidos para alcançarmos um fim... o da nossa relação. É por isso que os ciúmes me envergonham, porque a agonia dos ciúmes surpreende muita boa gente. Há quem use preservativo e seja apanhado na mesma. Há quem use óculos e deixe de ver. E há quem seja inteligente, e mesmo assim vá à bruxa.

Os ciúmes acabam sempre por ter a ver com a intensidade da paixão. Ou com a segurança que a outra pessoa nos dá. Ou ainda com a que temos em nós mesmos... Ninguém sai ileso, embora haja quem se saiba comportar melhor.

Eu confesso que se estiver apaixonada sou ciumenta... saudavelmente ciumenta... Que é sentir aquela dorzinha na barriga sempre que alguma gaja deixa cair qualquer coisa ao chão só para ter que apanhar de rabo espetado para o meu mais-que-tudo. E olhem que a barriga já me doeu muitas vezes, por isso sei do que falo.

O ciúme cego, que não é saudável, só se começa a manifestar em nós quando começamos a fazer coisas que nunca nos veríamos a fazer, tais como espreitar telemóveis, remexer em bolsos, apanhar olhares que na nossa cabeça só podem ser para ele, vasculhar-lhe as coisas, ou cheirá-lo e achar que ele cheira a sexo (que não o nosso). E tudo isto é feio.

Suspeito que os homens não confessam os seus ciúmes com medo que a voz lhes falhe. Já nós mulheres, é só garganta, por isso sai-nos tudo em discurso descoordenado para desfazer o nó que a dúvida emaranhou.

Nenhum homem gosta de assumir que a mulher lhe pode fazer mossa quando é cortejada por outro homem. E ela passou a dar importância ao colega que reparava nos seus pormenores, e ele acaba por asfixiar nos ciúmes que nunca teve. Acontece muito, não é?

Mas também pode acontecer o contrário. Ela nunca achou que havia razões para ter ciúmes. Era mais bonita que ele, e teimava em subestimá-lo. Um dia ele conheceu alguém como ele, e nunca mais viu beleza nela.

Desprezar os ciúmes é mau, mas tornarmo-nos desprezíveis por causa deles é capaz de ser pior. Por isso, entre homens e mulheres venha o ciúme e escolha.