26 novembro, 2007

Ficar por cima

Tenho um grupo de amigas, com as quais costumo jantar uma vez por semana em que quase falamos tanto quanto bebemos. À quarta caipirinha já a conversa ronda o sexo...
Desta última vez dizia-lhes que quando não estou apaixonada por ninguém, costumo gostar de vários gajos ao mesmo tempo, com os quais brinco ao gato e ao rato, sempre que se aproximam de mim. Durmo com um ou outro que vagamente me interessa, até me cansar deles, e que na verdade não tenho pena de ter o coração fechado, porque é muito mais fácil viver assim. De vez em quando abro um pequeno compartimento e alguém entra, mas a verdade é que não fica muito tempo, e ultimamente tenho sofrido na pele a fuga de muitos deles.

Falava-lhes destas minhas dúvidas quanto às razões de fuga de tantos homens, quando uma delas me interrompe para dizer que se calhar o meu problema era o mesmo que o dela... que era o facto de no sexo ela gostar sempre de ficar por cima, e eu baralhada com a falta de novidade, respondo-lhe:
- Sim, é verdade que eu também gosto, e...?
Ela responde-me que normalmente os homens acham que as mulheres que gostam muito de ficar por cima são umas malucas, que não servem para casar, nem para mães dos filhos deles.

Fiquei a achar que tinha encontrado ali a resposta para alguns abandonos súbitos que tenho sentido nos últimos tempos, mas independentemente de ser ou não essa a razão, tenho que admitir que há mulheres que vieram ao mundo, não para serem mães dos filhos de ninguém, mas apenas para receber e dar prazer aos homens, e eu tenho que admitir que me enquadro e revejo dentro deste grupo, mas também concluí que não há nada como nos aceitarmos como somos, porque não deve haver nada que faça alguém mais infeliz do que querer parecer aquilo que não é.

06 novembro, 2007

Satisfaz plenamente

Felizmente sou uma mulher de relacionamento fácil, por isso posso gabar-me de ter muitos amigos. Amigos estes que muitas vezes se irritam com as minhas incoerências, mas a todos eles eu já disse que para mim no amor não há coerência, e a verdade é que todos aqueles que de mim duvidaram fraquejaram no amor. E eu que costumo errar tanto, principalmente por a partir dos trinta anos me ter tornado aberta ao prazer do consumo imediato, não deixo de ter admiração por eles, ou talvez a tenha especialmente por isso, por eu também errar tanto.
O amor nunca foi para sempre, mas agora ele é sempre tão rápido, que me decidi a correr atrás dele até me cansar. Estou-me nas tintas para o estatuto, para as aparências, ou para a intelectualidade que costuma unir pessoas que pensam da mesma forma, mas não une os corpos. Seguindo esta minha linha de orientação, tenho tido uma relação com o sexo mais honesto dos últimos meses.
Por honesto entenda-se um satisfaz plenamente, onde não há espaço para angústias, porque não há amor, nem promessas de espécie alguma. Esta combinação dá sexo puro, e uma entrega desmedida de duas pessoas que usam o corpo às cegas. Faz-se com as mãos, os pés, a língua, enfim... com tudo aquilo que se poupa em promessas e frases bonitas.
Eu nunca lhe pergunto nada que não seja pela linguagem corporal, mas isso não nos impede de ficarmos colados com os olhos um no outro com a luz a bater nas nossas imperfeições.
A paixão é como a claridade, deixa-nos ver todas as imperfeições, e continuamos ali presos a querer ver mais.
O que temos tido é sexo honesto, que nos satisfaz plenamente... e é tudo.
Estive com ele até agora umas seis ou sete vezes, e a última vez foi sempre melhor que a anterior, por isso estamos a pensar em criar uma nova edição do kamasutra.