28 janeiro, 2006

Ponta da língua

Isso é tudo teu?"
A pergunta trazia um rosto que eu não fixei. Era alguém que aliviava a sua masculinidade com piropos batidos.
Eu disse: "Não, pedi emprestado"
Gosto de provocação. Exibo-a no peito sem soutien.
Os audazes merecem resposta. Porque são poucos os que têm a boca na ponta da língua. E há bocas que eu gostava de ter na ponta da minha língua...

10 janeiro, 2006

Fugir

Quando estava contigo só pensava noutras coisas. Nomeadamente: fugir. Não podia estar ali a ouvir o que me estavas a dizer. Não sei discutir. Não acreditava na tua conversa. A tua única queixa era eu não estar lá quando tu querias.
"Faz tudo menos fugir" - dizias
E eu não podia... enquanto tu continuavas naquele pranto, e com aquela conversa... sem amor próprio.
Cada um tem a sua doença. A minha era não querer existir. Pensava que merecias melhor do que eu, que te ias fartar de mim, que me ias descobrir. E afinal, contrariamente a mim, a única coisa que eu tinha para descobrires, à parte do meu grande amor, era a minha queda por ti.

05 janeiro, 2006

Fui passar férias com uma pessoa que conheço, e que eu acho que me conhece bem. Uma das poucas a quem me parece que ainda posso pedir tudo.
Acabamos por nos amar, e o nosso amor parece nunca chegar ao fim. Lá para onde fomos, onde por estes dias o sol é impedioso e nos torna passivos, gostava de chegar ao quarto e passear-me com o mínimo de roupa possível. Era o princípio do sexo...
Por vezes torno-me uma presa fácil... para melgas dissimuladas.
Ao terceiro dia, no nosso quarto, com o mar como pano de fundo, e um resto de lua perdida no céu, deram à costa as primeiras picadas... instantaneamente transformadas em perturbação das duas da manhã.
- Estás a dormir?
- Não... diz!
- Coça-me as costas...
Isto terminava sempre bem. Eu adormecia satisfeita com um sorriso quase orgásmico, e as mãos que saciavam a minha necessidade partiam em busca das melgas...
A vida em comum tem destes episódios, e confesso que já sentia saudades de tudo isto...